CORDEL NO GLOBO RURAL
Globo Rural especial de aniversário (31 anos), janeiro de 2011
Tema: Literatura de Cordel
Nos 31 anos do Globo Rural o tema foi Literatura de Cordel. O programa foi dividio em 4 blocos temáticos e, neste video do 4º Bloco, o assunto foi O Cordel na Sala de Aula. Foram entrevistados Rouxinol do Rinaré, Arievaldo Viana, Marco Haurélio, Manoel Monteiro, Alceu Valença, Nando Cordel, dentre outros.
Rouxinol do Rinaré está na WIKIPEDIA:
* Portuguesa: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rouxinol_do_Rinar%C3%A9
* Francesa: http://fr.wikipedia.org/wiki/Rouxinol_do_Rinar%C3%A9
* Italiana: http://it.wikipedia.org/wiki/Rouxinol_do_Rinar%C3%A9
Programa Grande Debate (TV O Povo) entrevista Rouxinol do Rinaré, Almir Mota, Simone Pessoa e Orlângelo Leal. A pauta foi a III Feira do Livro Infantil de Fortaleza. Veja vídeo (2º bloco) e - abaixo - os link's para os 4 blocos na sequência (o programa na íntegra):
Cordel atemporal entrevista: Rouxinol do Rinaré
Equipe do Globo Rural da Casa de Rouxinol do Rinaré |
Arievaldo Viana e Rouxinol do Rinaré - diante das câmeras da Globo |
Rouxinol do Rinaré está na WIKIPEDIA:
* Portuguesa: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rouxinol_do_Rinar%C3%A9
* Francesa: http://fr.wikipedia.org/wiki/Rouxinol_do_Rinar%C3%A9
* Italiana: http://it.wikipedia.org/wiki/Rouxinol_do_Rinar%C3%A9
Programa Grande Debate (TV O Povo) entrevista Rouxinol do Rinaré, Almir Mota, Simone Pessoa e Orlângelo Leal. A pauta foi a III Feira do Livro Infantil de Fortaleza. Veja vídeo (2º bloco) e - abaixo - os link's para os 4 blocos na sequência (o programa na íntegra):
Cordel atemporal entrevista: Rouxinol do Rinaré
(Entrevistado por Marco Haurélio em 02/08/2011).
Rouxinol do Rinaré em São Paulo, no Museu da Língua Portuguesa |
O blog Cordel atemporal inaugurou uma nova seção, dedicada a entrevistas, tendo como convidados pessoas de destaque da literatura de cordel no Brasil.
Para começar, um dos grandes poetas da nova geração de bardos nordestinos, Antônio Carlos da Silva, rebatizado em arte como Rouxinol do Rinaré.
Leia, abaixo, alguns trechos:
Ele não veio ao mundo para ser mais um figurante. No papel que desempenha no mundo da Arte, Antônio Carlos da Silva brilha sob o nome artístico Rouxinol do Rinaré. Inicialmente publicou folhetos de cordel para, depois, estabelecer-se como autor de infantojuvenis, a exemplo de Um curumim, um pajé e a lenda do Ceará e O alienista em cordel. Durante vários anos foi revisor da Tupynanquim Editora, dirigida por Klévisson Viana. Hoje, colabora com o editorial do IMEPH, por onde tem vários títulos editados.
Quem é, afinal de contas, Rouxinol do Rinaré? De onde veio, para onde vai? R – Nasci Antonio Carlos da Silva, em Rinaré, localidade de Quixadá (atualmente Banabuiú, pela emancipação deste distrito), sertão central do Ceará. O nome literário, Rouxinol do Rinaré, surgiu em 1999, como autodenominação, uma homenagem ao lugar onde nasci e ao pássaro canoro (embora eu não cante, rsrs.), madrugador que, fazendo seu ninho nos frechais da casa de minha infância, me despertou tantas vezes com seu canto que ficou na minha memória. Assim, como Rouxinol, assinei meus primeiros versos publicados em um jornalzinho em Pajuçara (atual distrito de Maracanaú) e em seguida meus primeiros cordéis.
De onde vim, já disse... para onde vou só Deus sabe. Rsrsr.
Como você chegou à literatura de cordel, ou ela chegou a você? R – Sou de origem rural e, quando nasci, o entretenimento das bocas de noite no sertão era a leitura de “romances” e “folhetos”, os atuais cordéis. Desde que me entendi por gente ouvia meu irmão mais velho, Severino Batista, lendo os romances. Quando aprendi as primeiras letras, passei a ler também para meus pais e vizinhos nas debulhas de feijão e nas noites comuns (não tínhamos televisão).
(...)
De onde veio a inspiração para escrever O Guarda-Floresta e o Capitão de Ladrões? R – “O Capitão de Ladrões” surgiu de uma história de exemplo que meu pai contava e anos depois (quando comecei escrever) li algo semelhante em um velho livro, datado de 1935, por título “Pérolas esparsas”, com vários contos sem indicação de autoria. Daí achando interessante o enredo adaptei-o, modificando algumas coisas, inclusive os nomes dos personagens.
Capa de "Capitão de ladrões", editora Tupynanquim-CE |
Você é dos raros cordelistas que, atualmente, escrevem histórias de aventuras. Por que a escassez de obras em um gênero tão rico?
R – Creio que as grandes histórias (tanto as de aventura como outros gêneros dos nossos romances) quase desapareceram no período de crise do Cordel. Para os poetas em atividade nesse período talvez fosse mais cômodo fazer folhetos noticiosos e outros tais, “magrelinhos”, com poucas páginas pra facilitar a publicação... Na nossa geração ainda há muitos que só sabem fazer “folhetinhos” de 08 e, no máximo, de 16 páginas por falta do que dizer, por não saber contar uma história com início, meio e fim. Daí a enxurrada de folhetos temáticos (estilo verso de cantador, de improviso, sem enredo). Nada contra os cantadores, pois alguns também se revelaram bons cordelistas. Só que para isso precisaram sentar “na banca” e escrever, como nós, pois não se cria “romances” de improviso. Daí a diferença do Repentista pra o Cordelista.
Quem hoje escreve romances de fôlego (longas histórias, com bom enredo, início, meio e fim) com certeza tem raízes, tem influências das leituras dos grandes mestres do Cordel. E, como bem disse você, são raros os que o fazem (principalmente sem entediar os leitores).
Íntegra disponível em: http://marcohaurelio.blogspot.com/2011/08/cordel-atemporal-entrevista.html
PALAVRA
FIANDEIRA
Revista
Digital Literária
Entrevista:
Rouxinol do Rinaré
Responsável:
Marciano Vasques
Edição semanal
– ANO 3, Nº 74 – 14 de julho de 2012.
1.Quem é
Rouxinol do Rinaré?
R — Cearense, nascido em Rinaré, distrito de Quixadá (sertão central),
batizado Antonio Carlos da Silva, de uma família de agricultores... é o sétimo
filho de uma prole de 11 (dos quais 5 são poetas). Rouxinol do Rinaré é
autodenominação, desde a década de 90, por conta do envolvimento com a poesia.
2.Seu
livro “O Alienista em Cordel” já foi adotado por escolas, e tem o
reconhecimento de educadores. Como foi “traduzir” para o cordel um conto tão
importante como esse do Machado de Assis?
R — É... fui muito feliz ao adaptar “O Alienista”. Convidado por Marco
Haurélio para integrar a coleção “Clássicos em Cordel” da Editora Nova
Alexandria (SP); entre as várias opções, escolhi esse conto do Bruxo do Cosme
Velho. Fui feliz porque “O Alienista em Cordel” foi publicado no ano do
centenário de morte de Machado de Assis. Além da adoção para projetos escolares
(como aconteceu em Belo Horizonte – MG e Cabo de Santo Agostinho-PE), nossa
versão em cordel serviu de base para trabalhos acadêmicos e, por duas vezes,
foi adquirido para o acervo da Biblioteca Nacional.
Fazer a adaptação de O Alienista para o Cordel foi uma honra e, ao
mesmo tempo, um prazer, já que sou leitor e admirador de Machado de Assis. Quanto
ao processo da adaptação em si, mesmo tendo o domínio da técnica de construção
textual do gênero, não foi tão fácil. Quando faço um trabalho desse porte, leio
várias vezes o texto original, faço anotações, ponderações, antes de escolher o
caminho para tecer a narrativa em versos... é muita responsabilidade!
3.Tem uma
filha que também é cordelista. Como surgiu em sua vida o cordel?
R — Pois é. Tenho três filhas: Joana, Jamille e Julie Ane. A Julie é a
cordelista. O cordel, antes conhecido por “romance”, “folheto”, era o
entretenimento, na minha infância, nas bocas de noite, como hoje são os filmes
e as telenovelas. Cresci ouvindo meu irmão mais velho (Severino Batista) ler “O
cachorro dos mortos” (de Leandro Gomes de Barros), “As proezas de João Grilo”
(de João Ferreira de Lima), “O mistério dos três anéis” (de Delarme Monteiro),
dentre outros clássicos. Mais tarde me tornei leitor e, consequentemente, também
me vi escrevendo meus próprios enredos.
4.É
homenageado com uma “Cordelteca” numa escola, numa cidade chamada Eusébio.
Conte aos nossos leitores sobre esse projeto. Foi a primeira “Cordelteca” no
país?
R — Na verdade os méritos são do projeto “Nas ondas da leitura”, da
Editora IMEPH, onde colaboro como autor, revisor, e ministro oficinas nas
formações de professores em vários municípios do Ceará.
Com certeza não foi a primeira “Cordelteca” do país, mas, creio, tenha
sido a primeira em escolas públicas no Estado.
5.Qual foi
sua primeira obra publicada? Pode, por favor, nos falar sobre ela?
R — Mesmo tendo publicado primeiramente textos em jornais, considero
como minha primeira obra impressa “O valentão Chico Tromba” (Tupynanquim
Editora), romance publicado em 1999, mas que fora escrito uns cinco anos antes.
Trata-se de um enredo com base numa história real, mas, claro, com uma
boa pitada de imaginação. O Chico Tromba era um pescador lá do Rinaré, com fama
de valente, que conheci quando eu era criança. Ele chegou a se “arranchar”, por
uns tempos, na casa de meu pai.
6.Como
está hoje o reconhecimento do cordel como uma cultura genuína da arte popular
do Brasil? Quais são os seus grandes expoentes atualmente, além de você?
R — O cordel, atualmente, tem conquistado seu merecido espaço. Está nas
bancas de revistas, nas grandes livrarias do país e, sobretudo, penetrando com
muita força em sala de aula; seja por projetos de editoras de visão como a Nova
Alexandria (SP), IMEPH e a Conhecimento Editora (CE), seja por programas
governamentais ou pelo trabalho individual e persistente dos cordelistas.
Os grandes expoentes do cordel, de minha geração, são Marco Haurélio,
Arievaldo Viana, Klévisson Viana, Evaristo Geraldo, Paiva Neves, João Gomes de
Sá, Antonio Francisco, Costa Senna, Varneci Nascimento e as poetisas Josenir
Lacerda e Arlene Holanda. Da “velha guarda”, ainda em atividade, são os mestres
Manoel Monteiro, Mestre Azulão, João Firmino Cabral e Bule-Bule. Às vezes citar
nomes não é bom, pois tem muita gente boa por aí que fica com ciúmes (rsrs).
7.Vai
estar na I FEIRA BRASILEIRA DO CORDEL, em Fortaleza? Como será esse evento, e o
que espera dele?
R — Estarei sim. O evento em si já é uma das muitas conquistas do
cordel, pois é resultado de um projeto aprovado pelo MinC – Ministério da
Cultura – inscrito em 2010 no “Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel”
pela AESTROFE (Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado),
entidade da qual fui um dos idealizadores e que tem como presidente o poeta e
editor Klévisson Viana (curador da feira).
Tenho a expectativa que seja um excelente evento. Oportunidade ímpar de
conhecer novas pessoas, reencontrar poetas parceiros e amigos e expor nosso
material. Inclusive estarei lançando dois títulos novos: “O capitão de
Ladrões”, romance em cordel (edição especial pela Nova Alexandria), e o “ABC do
Ceará” (pela Editora IMEPH).
Será um evento imperdível para aqueles que amam nossa cultura, pois
poderão ouvir uma rica palestra com Marco Haurélio, se maravilhar com os versos
improvisados por Geraldo Amancio e Bule-Bule, além de poder adquirir o que há
de melhor em Literatura de Cordel produzida em vários estados do Brasil!
8.Tenho
uma de suas obras, que chegou a mim por intermédio de Marco Haurélio. Trata-se
de “A História Completa de Lampião e Maria Bonita”. Como é feito o trabalho de
pesquisa após a escolha do tema?
R — Esse trabalho, assinado por mim e Klévisson Viana, já vendeu mais
de 15 mil exemplares, com diversas tiragens de mil, três mil e até cinco mil por
vez.
A pesquisa é sempre necessária antes da escrita de qualquer tema.
Principalmente quando se trata de um tema polêmico e tão explorado como o
cangaço. Geralmente lemos bastante livros relacionados ao tema, vemos filmes
(se tiver) e hoje até recorremos à internet. No caso de “A história completa de
Lampião e Maria Bonita” nossa fonte principal foi “O espinho do quipá”, obra de
Antônio Amaury e Vera Ferreira (neta de Lampião).
9.Como
terá sido esse encontro entre John Lennon e Raul Seixas no céu?
R — Cordéis de “encontros” são muito comuns, quase tanto quanto os de
“pelejas” e “debates”. Gosto muito das músicas do “Maluco Beleza”. Ele “sacava”
de tudo um pouco; não foi um simples roqueiro... seus ritmos e composições
estão impregnados de filosofia, poesia, cordel e baião. Daí, já escrevi sete
cordéis inspirados em Raul Seixas e sua obra, sem me tornar repetitivo.
“O encontro de John Lennon com Raul Seixas no céu” é inspirado no fato
de Raul ter sido um fã dos Beatles e, como Lennon, ter sonhado ele (Raul) em
criar a “Cidade das Estrelas”. Lennon morre primeiro, Raul depois; e lá no
outro plano concretizam esse sonho, (rsrs). Nesse “encontro” estão outros
grandes nomes das letras, da filosofia e astros da boa música mundial... mas o
que acontece durante, somente lendo o cordel para saber, rsrs.
10.De que
forma, por quais caminhos, chegou ao
Brasil a Literatura de Cordel e por quais transformações principais passou?
R — Existe hoje muita polêmica em torno desse assunto. Como não sou
estudioso, e sim autor e leitor de cordéis, tenho procurado me manter, de certa
forma, neutro nessa discussão.
Como curioso li alguns teóricos (pesquisadores) do gênero que afirmam
ter o cordel origem na península ibérica e que chegou ao Brasil na “bagagem”
dos colonizadores, aqui se aculturando, transformando-se numa poética própria
do Nordeste, hoje extensiva a várias outras regiões do país. Acredita-se que a
poética, tanto do cordel quanto do repente, tenha fortes influências do
trovadorismo da idade média.
Quanto às transformações, eu acredito que houve aquelas naturais,
esperadas, por conta da evolução tecnológica – do manuscrito para o impresso,
do formato de folheto (que ainda convive bem com outros formatos) para o livro
(e outros suportes) – sem, no entanto, perder suas características principais, as
da composição textual (boa trama composta por verso, estrofe, rima, métrica e
oração), o que realmente estabelece o gênero “cordel”. Os temas ou assuntos
continuam sendo como no passado: aborda-se a contemporaneidade (ecologia,
cultura afro, guerras, internet, e outros temas atuais), mas continua-se a
fazer releituras de obras clássicas da prosa (romances, novelas e contos) e
revisitar temas mais antigos (histórias de cangaceiros, de príncipes e
princesas, de cavaleiros e dragões etc.).
11.Num
curso de EJA (Educação de Adultos) a Literatura de Cordel pode desempenhar um
fator alfabetizador e até mesmo de protagonismo nesse processo de
alfabetização?
R — Com toda certeza. Levando em conta, principalmente, o público do
EJA o cordel pode despertar o gosto pela leitura, por sua riqueza lúdica –
rimas, ritmo e as boas tramas. Aqui no Ceará há vários exemplos de projetos bem
sucedidos, utilizando o cordel em sala de aula, tanto para o EJA como para
educação infantil.
12.Tem um
livro sobre o FOLCLORE BRASILEIRO. Poderia, por gentileza, nos falar sobre ele?
R — É um texto em décimas, escrito em 2001, que foi revisto em 2010 e
publicado pela Conhecimento Editora, que está preparando uma reedição bilíngue
(português/espanhol). Tem belíssimas ilustrações de Anilton Freires (capa e
miolo).
“Folclore Brasileiro” é fruto de pesquisas, com base em Leonardo Mota e
Câmara Cascudo (respectivamente folcloristas cearense e potiguar), mas tem
também como base as minhas vivências como menino do sertão nordestino – as
noitadas ouvindo histórias de Trancoso, cordel, brincadeiras de bumba-meu-boi,
contatos com as rezadeiras, com os repentisas, com os brinquedos artesanais
etc.
13.Deixe
aqui a sua mensagem final. Qual é a sua Palavra Fiandeira?
R — Minha Palavra Fiandeira destina-se,
em especial, aos educadores:
O cordel forma
leitores,
Mexe com a
imaginação.
Por seus enredos
rimados
Ler se torna
diversão.
Ele entretém e
ensina...
Use, em qualquer
disciplina,
Cordel na educação.