sábado, 23 de junho de 2012

O CAPITÃO DE LADRÕES


Ilustrações: Eduardo Azevedo - Editora Nova Alexandria

O Guarda-Florestas e o Capitão de Ladrões 


Rouxinol do Rinaré integra a geração de cordelistas surgida na última década do século passado, responsável pelo ressurgimento do gênero romance na poesia popular. Por romance, os autores de cordel definem as narrativas de fôlego, inspiradas na tradição oral ou criadas pelos artesãos do verso. Alguns cordéis desse gênero têm 16 páginas, a exemplo dos clássicos Romance da princesa do Reino do Mar Sem Fim, de Severino Borges, e Romance de João Cambadinho e a princesa do Reino de Mira-Mar, de Inácio Carioca. Desde Silvino Pirauá de Lima (1848-1913), o popularizador da tradição dos romances autorais no cordel, passando por Leandro Gomes de Barros (1865-1918), o grande sistematizador e responsável pelo início da editoração profissional, o romance tornou-se o gênero nobre dentre os poetas do povo.

O Guarda-Florestas e o Capitão de Ladrões, publicado originalmente em folheto pela Tupynanquim Editora, em 2006, é uma homenagem que Rouxinol presta aos mestres do cordel, em especial ao pernambucano Delarme Monteiro da Silva (1918-1994), sua principal referência. A história é uma versão poética do conto homônimo lido em uma coletânea chamada Pérolas esparsas, sem indicação de autoria, ainda na infância, passada na zona rural de Quixadá, sertão cearense. O enredo gira em torno da atuação de Frede, um Guarda-Florestas implacável no cumprimento de seu dever, conforme lemos nesta estrofe:

Num certo reino da Prússia,
Há muito tempo passado,
Residia um cidadão
Num bosque bem afastado,
Tendo a missão de guardar
As florestas do reinado.

Seu principal inimigo  é o Capitão de Ladrões, a quem persegue obstinadamente:

O Capitão de Ladrões,
Como era conhecido,
Atacava com as sombras,
Passava o dia escondido.
Tornou-se questão de honra
Capturar o bandido.

Há ainda outros personagens, como Hilda, esposa de Frede, que desempenhará um papel fundamental nos momentos de maior tensão do romance. À maneira de muitos contos populares, encontramos, nesta obra, o drama da queda — simbolizado pela atitude do ladrão — e da redenção, quando este, enfim, resolve dar um novo sentido à sua existência. No cordel, há similares na História de Roberto do Diabo, de Leandro Gomes de Barros, e em Dimas, o Bom Ladrão, cuja autoria é atribuída a Francisco das Chagas Batista. Rouxinol do Rinaré, portanto, revisita a tradição dos grandes autores, sem perder a originalidade característica de seus versos, que estão entre os melhores de quanto já se publicou na literatura de cordel do Brasil.

Marco Haurélio - poeta e pesquisador

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